Os três Trapalhões afirmam que ninguém vai substituir Zacarias. O quarteto não voltará a se formar. “Eu sinto que o Zacarias continua junto a gente. Em todo trabalho que fazemos ele está presente”, diz Renato Aragão. Ao que Dedé Santana emenda: “Ele era o guru espiritual da turma. Ele nunca vai nos abandonar”.

Depois da morte de Zacarias, o ibope do programa pulou de trinta para sessenta pontos. “Acho que o publico quer ver como o programa ficou”, acredita Santana.

Mesmo assim, a família de Zacarias não tem recebido qualquer tipo de ajuda financeira dos Trapalhões. “A mulher e os filhos de Zacarias não precisam de nada. Acho que não estão passando por qualquer dificuldade. Ele era um mineirinho bem regrado. Sempre economizava um dinheirinho em baixo do colchão”, explica Aragão.

Para Dedé Santana, Zacarias “era o único ator de verdade da turma. Ele tinha uma técnica especial para fazer rir. Acho que o Zacarias era uma mistura de desenho animado com cinema mudo. Quando corria, o movimento dos braços parecia um desenho quadro a quadro. E fazia toda garotada rir mesmo quando estava calado”.

“O Zacarias conseguia fazer uma coisa difícil para a maioria dos atores: manter um tipo, um personagem” – continua Santana –. “Ele era sempre o mesmo. Eu o Renato não conseguimos fazer isso. Às vezes estamos fazendo um caipira e acabamos num tipo baiano. O Mussum também vive esquecendo as piadas, mas, como é tão espontâneo, faz todo mundo rir. Agora o Zacarias nuca esquecia suas falas. Nós somos apenas palhaços. Ele não”.

O espetáculo circense que os Trapalhões estão fazendo no Real Moscou com a casa cheia é em homenagem a Zacarias (A.T)

No domingo, 1° de abril, quando voltar ao ar o programa “Os Trapalhões”, o publico vai assistir a 10 minutos de imagens do Zacarias, o comediante Mauro Gonçalves, morto no dia 18 de março. “Vamos conversar um pouquinho com ele. Ainda não estou acreditando que Zacarias não vai voltar” lastima Renato Aragão, o Didi.

São imagens tiradas de programas anteriores. O Zacarias sorrindo, bem alegre, Didi, Dedé e Mussum vão dizendo que estão tristes, esperam por sua volta, que o lugar do Zacarias esta ali e que vai ficar eternamente. “Fiquei sem meu filho caçula. Passamos 17 anos juntos e agora somos um quarteto de três. O Zacarias é insubstituível”, dia Aragão.

O programa deste domingo foi gravado no dia 12 de março quando o Zacarias estava se queixando de cansaço. “O Zacarias mesmo sugeriu que a gente fosse tocando as gravações. Ele gravaria quando já estivesse melhor e suas imagens seriam montadas depois. Não deu tempo”, conta Renato Aragão.

O líder de Os Trapalhões, Renato Aragão, conta ainda que visitava o Zacarias doente e pedia, ‘fica bom logo que a gente não esta mais agüentando”.   E Zacarias apenas respondia, “vão tocando”. Com lagrimas nos olhos, Renato Aragão confessa, “não esperava que Zacarias fosse partir tão cedo”. Pelo menos durante este ano, o nome do Zacarias vai continuar nos créditos da TV Globo. “E o pior é a gente ter que fazer rir com o coração entristecido”, diz o Didi.

O ultimo filme dos Trapalhões, “Uma Escola Atrapalhada” – que teve a participação do Zacarias – será lançado em julho, durante as férias escolares. Renato Aragão já se prepara para rodar em dezembro o “Robin Hood do Asfalto”, o primeiro filme sem o Zacarias. ‘Vai ser horrível mas não podemos desistir.”

A partir deste domingo, o programa Os Trapalhões terá duas partes. Um show de variedades com participações de muitos convidados do elenco de novelas e depois, na segunda parte, uma historia passada no Trapa Hotel, um hotel recheado de trapalhadas. Neste primeiro domingo o publico vai assistir um quadro musical, “As Noivas” e depois uma sátira á “Tieta do agreste”, além da participação do Chico Anysio, como convidado. O Trapa Hotel tem elenco fixos e a TV Globo pretende exportar esta parte, como seriado, para vários países. Didi (Renato Aragão) é o secretário-geral do gerente Pinoel, interpretado por Roberto Guilherme. Dedé (Dedé Santana) é o diretor de esporte e lazer e Mussum o Detetivis. (Jornal da Tarde, 31/03/1990)

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A morte do comediante Mauro Gonçalves, o Zacarias, no ultimo domingo, acabou transferindo a estréia do programa “Os Trapalhões” do próximo dia 25 para 1° de abril, com os outros integrantes ainda abalados com a ausência do amigo. Didi, Dedé e Mussum voltaram ontem de Minas Gerais na madrugada de segunda – feira e não tiveram  condições de continuar as gravações do primeiro programa, cuja primeira parte, sob direção de Mauricio Sherman, tem apenas dois quadros gravados.

O programa “Os Trapalhões” tem agora nova cara e a redação final esta a cargo do humorista Chico Anysio. Dividido em duas partes – a primeira mantendo os quadros e apresentações musicais, com Mauricio Sherman dirigindo os dois primeiros programas – gravadas em um cenário fixo montado no Teatro Fênix.

A segunda parte do programa, correspondente ao Trapa Hotel, já tem um episódio gravado, dirigido por Wilton Franco que, a partir  do terceiro programa, assumirá a direção integral. Nesta nova roupagem dos Trapalhões, os comediantes estarão sempre envolvidos em confusões com os funcionários fixos do hotel e com os hospedes ilustres representados por convidados especiais.

O gerente do hotel será interpretado pelo ex-sargento Pincel (Roberto Guilherme), agora sem sua costumeira careca. Alberto Perez representará o superintendente, enquanto Renato Aragão será o assistente de gerente, Dedé Santana o encarregado de esporte e lazer, e Mussum o chefe da segurança. Como se decidiu pela não substituição do Trapalhão Zacarias, o hotel não terá maitre.

Mas ainda farão parte do elenco Tião Macalé (Boy), Jorge Lafond (encarregado de cozinha, que este ano desfilou pela Beija-Flor, no Sambódromo, causando polemica com seu suspeito aplique de couro) , o cantor Conrado, como hospede fixo,e a menina Duda, do “Xou da Xuxa”, adotada pelos Trapalhões no primeiro programa.

Na primeira história, quem chega ao hotel é o professor de lambada Carlinhos de Jesus, que vai tentar ensinar a coqueluche do momento aos atrapalhados companheiros. No segundo programa o personagem Coringa (Rogério Cardoso, que trata o professor por “Amado mestre” na escolinha do Chico Anysio) aprontará das suas. O programa continuará com duração com duração de 45 minutos, com figurinos de Lulu Areal e cenários de Leila Moreira, mantendo também a equipe de figurantes, além de 40 casais semelhantes a turistas contratados em agências de modelos especializadas.

(Folha da Tarde - 23/03/1990)

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