Os Trapalhões

 

A década de 70 trouxe grandes mudanças na vida de Mauro Gonçalves. Após o grande sucesso do espetáculo “A Dama do Camarote”, ao qual ganhou o prêmio de “ator revelação”. Um personagem do programa “Café sem Concerto”, da extinta TV Tupi, trouxe a Mauro mais um grande destaque na mídia no ano de 1974. Tamanho destaque que fez com que Renato Aragão ao participar do programa, viesse a se admirar com o personagem que Mauro interpretava naquele programa. Um garçom chamado “Moranguinho”, com um jeito de desenho animado ao vivo. Renato Aragão não perdeu tempo e logo o convidou para integrar o elenco do seu programa semanal, “Os Trapalhões”, que eram contratados da TV Tupi e devido ao grande sucesso do programa no horário, ganhava mais uma hora no ar. Para Renato Aragão o encontro com mauro foi perfeito, pois iria formar novamente um quarteto e teria mais um elemento para colaborar nesta grande jornada.

Renato Aragão leva Mauro aos ensaios do programa e o apresenta aos companheiros de trabalho, Dedé Santana e Antonio Carlos, o Mussum. Segundo Dedé Santana, ao olhar para Mauro Gonçalves, puxou Renato Aragão de lado e diz: - Você esta doido cara? Olha o estilo dele! Está mais para um gerente de banco, do que para um humorista! (Exclamou Dedé ao olhar para Mauro que estava de terno e gravata). Renato olha para o amigo e diz: - Calma Dedé! Ele ainda não está caracterizado. Mas pode acreditar, o cara é muito bom!

Mauro vai ao camarim, pinta os dentes com tinta crayon, coloca uma peruca e entra em cena para iniciar os ensaios. Ao iniciar os ensaios, Mauro já mostra seu talento através do desempenho que o seu personagem (até então com o nome de “Moranguinho”) apresentava, dando suas corridinhas ligeiras e soltando sua risada marcante. Renato Aragão, Dedé e Mussum não conseguem ensaiar, pois cada movimento do personagem de Mauro, os mesmo caiam na risada. Firma-se então, no ano de 1974 na extinta TV Tupi: Os Trapalhões! Com Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e “Moranguinho”. Moranguinho? Este nome não colou muito bem no quarteto, e em uma das brincadeiras de Renato Aragão, em cena, fez com que Moranguinho se transformasse em “Zacarias”!

O apelido surgiu, pois em um quadro anterior, Renato contracenava com um galo que o chamavam de Zacarias, e ao contracenar com o personagem do Mauro (Moranguinho), Renato assimilou a risada do personagem ao canto de um galo. Mauro não gostou muito no inicio. Relutou, pois criou o personagem, suas características e o batizou como Moranguinho devido o jeito meigo que o personagem apresentava. Mas quanto menos gostamos de um apelido, mais fixo ele fica. E foi assim que nasceu por completo um dos personagens mais famosos do ator/humorista Mauro Faccio Gonçalves, o ZACARIAS. Sendo muito bem aceito pela critica e telespectadores do programa, em especial o publico infantil, ao qual se identificavam mais com o personagem sapeca, ingênuo, meio afeminado (não no sentido homossexual) e totalmente criança que Mauro levava todas as semanas em Os Trapalhões.

Mauro entrou de vez ao grupo, fazendo parte também da linha de shows por todo Brasil, e estampando os gibis do grupo lançados pela Editora Bloch no final do ano de 1975. Ainda em 1975, recebeu a homenagem de MELHORES DA TV devido ao seu grande destaque na TV no programa Os Trapalhões.

Em 1976 o grupo cancela seu contrato com a TV Tupi e assinam com a Rede Globo. Devido a rescisão do contrato com a emissora, foi dada pela justiça que o programa só poderia estrear na Rede Globo após o período de seis meses completos, adiando o programa para o ano de 1977.

Neste período, Mauro temia o fim do grupo e de seu personagem que em apenas 2 anos e meio já tinha conquistado todo Brasil com um sucesso sem explicação.

Com esta pausa o grupo se dedicava a apresentações em shows por todo Brasil, e também a um longa para as telas do cinema (O Trapalhão nas minas do rei Salomão), ao qual não teve a participação de Zacarias, devido o mesmo estar gravando um filme onde seu personagem era o protagonista no longa “Deu a louca nas mulheres” do diretor Roberto Machado.

Em 07/01e 05/02/1977, Os Trapalhões apresentaram dois especiais dentro do programa “Sexta Super”, já na Rede Globo, tendo sua estréia definitiva em 13/03/1977 com o programa semanal de domingo às 19 horas.

No ano seguinte é a vez de Mauro ingressar nas telas do cinema junto com “Os Trapalhões” no longa “Os Trapalhões na guerra dos planetas” de 1978. Neste mesmo ano adota o nome do personagem como seu nome artístico, sendo nacionalmente conhecido como Zacarias mesmo fora das câmeras.

Mas era difícil reconhecer o Mauro fora das telas e sem a caracterização do personagem. Pois Zacarias era todo elétrico e, já, Mauro Gonçalves era todo sério e tímido. Mas, ainda se tratando de 1978, Renato Aragão, nacionalmente conhecido por seus improvisos, entra em cena e realiza mais um toque final ao personagem de Mauro. Em um dos quadros do programa, o quarteto estava aprendendo boas maneira de comportamento no lar. E em uma parte das cenas, a professora de etiqueta pede ao Mussum que tire seu boné antes de comer, pois isso é considerado uma falta de respeito. Mussum atende ao pedido da professora, e Renato, sem que Mauro estivesse atento, tira sua peruca e o adverte: - é falta de educação comer com coisa na cabeça! Mauro leva um susto, pois não esperava por isso. Enquanto todos ao redor davam risada com a situação que veio se tornar mais uma característica do personagem, dando mais graça ao humor de “Os Trapalhões”. No ano seguinte, 1979, Os Trapalhões passam a produzir dois filmes por ano, os tornando recordistas absolutos no Brasil. Quebrando a bilheteria de muitos filmes estrangeiros e muito conceituados pela critica. Em “O rei e Os Trapalhões”, o quarteto foram até Marrocos filmar o longa. Mas totalmente escondido, pois o governo do país não havia autorizado as gravações, e esta foi a aventura mais real do grupo, pois realmente fugiam o tempo todo das policias e autoridades, concluindo o filme no Rio de Janeiro para evitar maiores transtornos.

O humor direto, muito visual, cheio de improvisos e com forte apelo ao público infanto-juvenil permanecia inalterado.
Além da liderança em audiência, o quarteto, ainda mais famoso depois de ter feito grande sucesso com seus filmes no Festival de Berlim, tinha também agora o respeito dos críticos e intelectuais. Para o novo longa, “Os Saltimbancos Trapalhões, Renato, Dedé, Mussum e Zacarias, foram filmar nos estúdios de Hollywood, nos estados unido, e este filme se tornou um clássico do quarteto devido o ótimo roteiro, direção e as musicas que embalavam o longa. 
Foi nesse contexto de ampla aceitação que o grupo comemorou 15 anos de existência, com o especial Os Trapalhões – 15 anos, exibido em julho de 1981, no primeiro domingo do mês, durante oito horas, com a participação de quase todo o elenco da TV Globo, jornalistas e músicos convidados. O especial também serviu para divulgar a campanha em favor dos portadores de deficiência visual, promovendo a doação de córneas e de bolsas de emprego em todo o país. Também participou da gravação do LP “Os Saltimbancos Trapalhões”, com musicas compostas por Chico Buarque, onde ganharam seu primeiro disco de ouro pela grande vendagem e sucesso das musicas, que caíram na boca do povo.

O programa passou por um período delicado quando os Trapalhões decidiram se separar. Dedé, Mussum e Zacarias romperam com a Renato Aragão Produções, empresa que cuidava dos negócios do grupo, formaram sua própria empresa, a DeMuZa, e optaram por seguir sozinhos na carreira cinematográfica e deixar o programa. Neste período, o trio Dedé Mussum e Zacarias, formaram um novo grupo e realizaram seu primeiro e único lona sem a presença de Renato Aragão: ATRAPALHANDO A SUATE. Além de estrelarem diversas propagandas publicitárias, realizarem shows pelo Brasil e terem um quadro provisório no programa “A festa é Sua”.  A separação durou cerca de seis meses, período em que Renato Aragão estrelou sozinho o programa. No final de 1983, por iniciativa própria, os humoristas decidiram voltar com o quarteto.

Em fevereiro de 1984, recebeu junto ao grupo, a homenagem da “Embrafilme”, pelo 5° festival de cinema para infância e a juventude de Tomar, em Portugal.  
Em março de 1984, os Trapalhões voltaram em grande estilo, num programa que contou com a participação de Chico Anysio. Em um cenário todo branco, exceto por alguns esparsos elementos de cena – uma árvore e alguns soldadinhos de chumbo, vivamente coloridos –, o comediante contou a história dos Trapalhões para uma pequena platéia formada por Simony, a apresentadora da Turma do Balão Mágico; Isabela Bicalho, a Narizinho do Sítio do picapau amarelo; e Gabriela Bicalho, atriz mirim do elenco da novela Champagne. Ilustrando a fala de Chico Anysio, imagens de arquivo relembraram o início da carreira do grupo, seus sucessos no cinema e momentos marcantes na televisão. Em seguida, Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias entraram em cena, trajando smokings e, emocionados, se reapresentaram para o seu público.

O grupo voltou com tanta força que em 1985 ganhou das mãos do desenhista Mauricio de Souza, sua estréia nas telas do cinema em desenho animado, que teve seqüência em 1986 no longa “Os Trapalhões no rabo do cometa”. Ainda em 1985, Os Trapalhões iniciam uma série de shows na casa de shows Escala, com participação especial e ativa de Xuxa Meneguel. A intenção do grupo era exportar o show para outros países, e assim aconteceu em Angola, Portugal e Argentina, onde o programa já havia sido exportado em 1980.

Em fevereiro de 1986, a DEMuZa passava por uma fraude causada por funcionários da produtora que cuidavam da parte financeira do trio. Os funcionários que recolhiam o dinheiro para o pagamentos de impostos, forjaram os recibos em uma maquina registradora roubada do Banco do Brasil. Nesta "Trapalhada" ao qual o trio não tinha culpa alguma, tiveram que arcar com uma divida milionária. Dedé perdeu três casas, Zacarias uma fazenda e Mussum a mansão que possuía numa ilha em Angra dos Reis, vizinha a de "José Bonifacio Sobrinho" (Boni), alem de uma lancha. A Rede Globo pagou a divida e descontou do salário do trio por dois anos. (Após o falecimento de Zacarias, Dedé e Mussum arcaram com a parte da divida do saudoso trapalhão).

Ainda em 1986, exatamente no dia 28 de dezembro de 1986, os Trapalhões comemoraram 20 anos de carreira com um programa especial dedicado à Campanha do Menor Carente, que marcava o início de uma série de campanhas que levaria ao ar pela TV Globo no decorrer do ano seguinte. Transmitido ao vivo do Teatro Fênix, 20 Anos Trapalhões – Criança Esperança foi ao ar às 11 da manhã e se estendeu por nove horas. Em cada um dos seus 28 blocos, fazia-se um balanço das doações da campanha e eram exibidas vinhetas sobre os direitos das crianças, entrevistas com convidados e documentários sobre experiências de apoio e recuperação de menores de rua. A partir de então, a TV Globo passou a exibir anualmente o especial Criança esperança.

Já em 1987, Zacarias recebeu o Diploma de Personalidade Ilustre, e  uma homenagem do 15° Festival do cinema Brasileiro em gramado, no Rio Grande do sul. Recebeu seu segundo “Disco de Ouro’ pelas 100 mil cópias vendidas do disco “Os Trapalhões” que fez parte da trilha sonora do filme “Os Fantasmas Trapalhões” e caiu na boca do povo. O quarteto tambem viraram crianças nos traços do cartunista “Cesar Sandoval”, que fez com que as portas para produtos do quarteto tivessem mais saidas, devido ao desenho simpatico que virou gibi pela editora Abril em 1988. Neste mesmo ano, Mauro fez uma alteração no nome de seu personagem, que passaria a se apresentar como “Zacaria”, excluindo o “s” do final do nome. Segundo o humorista a opção de retirar o “S”, foi um pedido de seu guia espiritual, que disse que traria mais fama ao personagem alem de não difamar o “Proféta Zacarias”, que compõe a Bliblia Sagrada (ao qual muitas crianças, devido ao nome do personagem, confundia o profeta com o trapalhão). A rotina do quarteto em 1988 é ainda maior. Alem de lançarem diversos produtos alimenticios, brinquedos, roupas e gibis com a caricatura do grupo, Zacaria, Renato, Dedé e Mussum, assinam uma série de shows em parceria com a PEPSI. Fora dos palcos, gravações de tv e intervalos de filmagem de filmes, Zacaria, Dedé e Mussum seguiam fazendo cerca de dois a três shows por dias em diversos circos, escolas, praças e eventos por todo Brasil. Esta rotina já era normal para o trio desde que fundaram sua empresa a parte da do companheiro Renato Aragão. Neste mesmo ano lançaram o LP “Os Trapalhões”, que comporam musicas para o longa “O Casamento dos Trapalhões”. O ano de 1989 chega e o programa, agora, é totalmente gravado ao vivo com a presença da platéia. O quarteto deitava e rolava com convidados especiais, em um pique sem igual comparado aos anos anteriores. No primeiro seméstre de 89, Didi, Mussum e Zacaria, tingiram seus cabelos de loiro para o mais novo filme do grupo, com participação especial de Xuxa Meneguel. No longa, isto não apareceu, mas Mauro realmente tingio os poucos cabelos, mas para o seu dia-a-dia não combinava com sua aparencia, e isso fez com que ele voltasse a cor natural, castanho. No filme ele ultilizou uma peruca vermelha, pois a loira o deixou um Xuxo, segundo o humorista. Com esta parceria, era constante a presença da rainha dos baixinhos no programa dos Trapalhões e do quarteto no programa Xou da Xuxa. O grupo realmente se entendia e se divertia demais com a Xuxa, ao qual a chamavam de a unica “Trapalhona” neste grupo. Já no segundo semestre, Os Trapalhões trocam de loira e apóstam em outra sensação da garotada: Angélica! A atriz já havia participado do filme “Os Heróis Trapalhões”, de 1988, e repetiu bem a dose. O ultimo programa dos Trapalhões foi gravado no dia 23 de novembro de 1989, sendo transmitido em 31 de dezembro de 1989. O que o Didi, Dedé, Mussum e Zacaria não desconfiavam, é que este seria o ultimo programa do QUARTETO. Mauro, começou em dezembro de 89, um regime por conta própria durante as férias do programa. Chegou a perder 20 quilos, bem visiveis em seu ultimo filme com os companheiros, “Uma escola Atrapalhada”, de 1990. Um pouco debilitado devido a fraquesa causada pelo regime mal sucedido, Mauro ainda teve forças para gravar uma participação neste filme. A participação não foi maior, pois os próprios Trapalhões optaram por uma pequena cena, pois todo grupo estava exausto devido os diversos compromissos dos anos anteriores. A escolha da peruca um pouco mais cheia para este filme, foi a forma de esconder o quanto o ator emagreceu. E realmente a peruca conseguiu fazer isso, dar a impressão que foi ela que o deixou mais magro. Na tv, Os Trapalhões teriam um novo quadro, que na verdade seria uma série dentro do programa, intitulada de “Trapa-hotel”. Onde Didi seria o secretário geral, Dedé o professor de esporte e lazer, Mussum o investigador e Zacaria seia o maitre do hotel, alem de contar com Tião Macalé, como boy, e Jorge Laffond, que seria o cozinheiro.

As gravações estavam previstas para o dia 08 de março de 1990, mas justamente nesta data, a saude de Mauro se agravou e o mesmo teve que ser internado, porém pediu aos companheiros que fossem gravando, pois logo ele estaria de volta e uma edição o colocaria nos quadros já gravados. Infelismente, no dia 18 de março, o ator Mauro Faccio Gonçalves veio a falecer, vitima de insuficiencia respiratória. Os Trapalhões decidiram continuar com o programa em homenagem a Zacaria, mantendo tambem a imagem do Trapalhão nas linhas de produtos dos Trapalhões e de gibis do grupo até o fim definitivo do programa em 1996. As Trapalhadas de Zacaria pode ser vista até o inicio do ano 2000, onde desde 1994 a Rede Globo vinha reprisando os melhores momentos dos Trapalhões na emissora. Em 2008 foram lançados os 40 titulos dos Trapalhões no cinema em dvd, assim como 3 dvds com aproximadamente 11 horas de trapalhadas do quarteto. No you tube, os videos do grupo, em especial os quadros de Mussum e Zacaria, são os mais visitados diariamente. Com Os Trapalhões, Mauro realizou 23 filmes(Contando com o Atrapalhando a Suate) e mais de 780 programas entre a Rede Tupi e Rede Globo.