“Zacarias” é enterrado em Minas

07-02-2011 23:17

SETE LAGOAS – Milhares de pessoas passaram diante do caixão do ator Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias do grupo Os Trapalhões, que morreu domingo ás 11h25 na Casa de Saúde São Vicente, na Zona Sul do Rio. Na hora de retirar o caixão do Sete Lagoas Tênis Clube, local muito freqüentado pelo ator nos tempos de juventude na cidade mineira, cerca de 30 mil pessoas ainda se aglomeravam ao redor do ginásio, aguardando para homenagear Zacarias.

No cemitério Parque Santa Helena, onde o corpo foi enterrado numa sepultura reservada ás autoridades da cidade, houve muita confusão, porque cerca de cinco mil pessoas conseguiram invadir o local quebrando alambrados ou pulando as cercas. A mãe do comediante, Virginia Faccio Gonçalves, de 75 anos, desmaiou após a descida do caixão, que foi levado num carro do Corpo de Bombeiros por um percurso de três quilômetros entre o velório e o cemitério.

Mauro Gonçalves morreu de insuficiência respiratória, provocada pela infecção pulmonar que foi a causa de seu internamento de nove dias antes. O ator permaneceu inconsciente durante todo tempo, respirando com auxilio de aparelhos. A versão divulgada pelo empresário do grupo, Gilberto Séves, foi de que Mauro fez tratamento para emagrecer sem supervisão médica e ficou muito abatido depois de perder 20 quilos. Séves afastou veementemente a hipótese de que o comediante tivesse contraído o vírus da AIDS, como foi divulgado nos últimos dias. Os médicos não se pronunciaram sobre esse assunto. “Quem o conheceu e conviveu com ele sabe que ele estava longe de qualquer grupo de risco”, acrescentou o empresário.

Casado com a atriz Selma Lopes, com quem teve a filha Laurinha, que lhe deu três netos. Mauro Gonçalves tinha completado 56 anos em 18 de janeiro, quando fez uma grande festa em Sete Lagoas, a 62 quilômetros de Belo Horizonte com cem mil habitantes. “Parece que veio despedir-se”, lembrou seu irmão mais novo, Marcelo Gonçalves.

O corpo do ator foi levado da clinica para a Santa Casa de Misericórdia, no centro do Rio, onde foi submetido a autópsia e embalsamento, para depois seguir de jatinho fretado a Belo Horizonte. Do aeroporto de Confins foi para a cidade onde Mauro nasceu. Pensando nas crianças, Zacarias fez os amigos prometerem antes de ser internado que seu corpo não seria visto caso ele morresse.

Em Sete Lagoas, entre os milhares de pessoas que foram prestar a ultima homenagem a Zacarias, estava o fã numero um dos Trapalhões, Carlos Dias, que veio especialmente de Campinas para passar os últimos momentos com o comediante, que dos quatros cativava o maior carinho. Carlos Dias desde os sete anos coleciona tudo do grupo. Ele detém o maior acervo sobre o quarteto: mais de 600 revistas em quadrinhos, todos os discos gravados (cerca de 50), brinquedos e os 35 filmes em vídeo, além de dez mil fotografias tiradas com os humoristas. “Como fã, gostaria que Os Trapalhões acabassem com o programa, em homenagem á memória de Zacarias”, sugeriu Carlos Dias.

 

“Trapalhões” voltam em abril

 

RIO – A volta dos Trapalhões á tela da Globo foi adiada para a segunda quinzena de abril. Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum estão muito abalados com a morte de Zacarias e só deverão retornar as gravações dentro de uma semana. O primeiro programa esta praticamente pronto e não conta com a participação de Zacarias, que já estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea. Falta apenas gravar um bloco, mas ainda não foi definido se será ou não feita uma homenagem ao comediante que morreu no domingo.

A assessoria de Imprensa da Rede Globo informou que será dado um tempo aos comediantes para se refazerem da perda do amigo de tantos anos, mas Renato Aragão, Dedé e Mussum já afirmaram que Zacarias é insubstituível. Não foi descartada, no entanto a possibilidade de ser contratado um novo humorista para voltar a fazer Os Trapalhões.

Ontem Mussum, muito abalado, conversou com os jornalistas no rio, pouco antes de partir para Sete Lagoas, em Minas Gerais, com Dedé e Renato Aragão, que também choravam muito. Inconformado, Mussum falou do amigo: “Ele sempre foi um cara muito feliz. Ele queria para ele e para todos os seus amigos toda a felicidade do mundo. Ele me ensinou a ser alegre e então morreu. Foi a única vez que alguém conseguiu nos separar”.

 

Na infância, chamando de “Bidu”

O mais velho dos 11 filhos de um comerciante, o ator e comediante Mauro Faccio Gonçalves deixou Sete Lagoas, onde nasceu há 56 anos, para estudar em Belo Horizonte, mas cursou apenas o primeiro ano da faculdade. Piadista como o pai, Mauro começou ainda criança a participar de shows da cidade e de uma festa tradicional de Sete Lagoas, onde saia desfilando em carros alegóricos. Entre os amigos tinha o apelido de Bidu.

Aos 18 anos começou seu primeiro programa humorístico na Rádio Cultura, de Sete Lagoas, e depois partiu para a capital mineira trabalhando na Rádio Inconfidência, na extinta TV Itacolomi (Repetidora da TV Tupi) e na TV Alterosa. Foram Paulo Gracindo e Mario Lago, num programa de rádio, que deram ao comediante a primeira oportunidade de trabalhar num programa de grande repercussão fazendo um tipo caipira no Tribunal de Calouros. “O rádio é a maior escola para inflexão do ator”, ensinava Mauro Gonçalves. Extremamente inibido, Mauro preferia fazer tipos, pois assim era muito mais fácil enfrentar o publico. Imitando vozes de bichos, velho, criança e caipira, Mauro fez muito sucesso em Minas Gerais. Foi na TV Tupi que ele criou o Zacarias, um caipira ingênuo, de fala meio efeminada e inspirado em pessoas de sua terra, a cidade do cristal e do mármore, como ele gostava de afirmar.

***************************************************************************************************************************************************************************