Aos 57 anos de idade, o mineiro Mauro Faccio Gonçalves, mais conhecido como Zacarias, por seu papel no programa humorístico de TV “Os Trapalhões”, morreu na manhã do dia 18, vítima de uma infecção respiratória. O humorista estava doente desde fevereiro desse ano, e o seu quadro veio a piorar em meados de março, quando precisou ser internado doze quilos mais magro. A última pessoa a ver o ator com vida foi sua mãe, que esteve em seu quarto cinco minutos antes dele morrer. Seu corpo foi embalsamado e transportado para sua cidade natal, Sete Lagoas - Minas Gerais, onde foi enterrado.

Renato Aragão e Dedé Santana, seus companheiros no programa, correram ao hospital assim que souberam da notícia da morte do parceiro. “É difícil acreditar nisso; tenho certeza de que lá onde ele está, não quer ver tristeza; quer que a gente passe uma mensagem de alegria para as crianças; nada de tristeza”, disse Dedé, que, na hora da entrevista, lembrou de um comentário de Renato Aragão: “Os Trapalhões são como uma mesa de quatro pernas. Sem uma delas fica difícil”.

O humorista Castrinho, amigo de Zacarias por mais de 25 anos, relembrou momentos com o amigo nos tempos em que a TV Tupi faliu: “Eu e um grupo de amigos ficamos desempregados, sem ter onde morar. O Mauro (Zacarias) nos levou para seu apartamento e formamos uma república. Ele era nosso conselheiro”.

Wilton Franco, diretor dos Trapalhões, falou da ingenuidade daquele que considerava o mais doce do quarteto. “Ele era tão puro quanto parecia na TV”, disse o diretor, avaliando que essa ingenuidade devia ser “coisa de mineiro”.

Zacarias era meio ermitão: gostava de viver sozinho em sua casa em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde cuidava de plantas e pássaros. Dentro da casa tinha um elefante com o bumbum virado para a porta, uma figa e um Buda. Tinha ainda uma ferradura com sete furos. Era espírita e muito religioso. Começou sua carreira de ator em Sete Lagoas, em um programa da Rádio Cultura. Em 1963, veio para o Rio trabalhar na TV Excelsior. Na TV Tupi, interpretou um garçom engraçado no programa “Café sem concerto”. Renato Aragão viu, gostou dele e o transformou em um trapalhão, em 1974. Seu sonho era montar um musical humorístico e sua maior preocupação era com a educação das crianças brasileiras e também com a preservação da natureza. (Jornal do Brasil, 19/03/1990)

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  O humorista Mauro Gonçalves, do grupo Os Trapalhões, morreu ontem no Rio, aos 56 anos, devido uma insuficiência respiratória.

O ator Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias do quarteto Os Trapalhões, morreu ontem as 11h25, na Casa de Saúde São Vicente (Gávea, Zona Sul), de insuficiência respiratória provocada pela infecção pulmonar, a causa do internamento, há nove dias. Durante todo este tempo Zacarias permaneceu inconsciente, respirando com auxilio de aparelhos. Os médicos da clínica não se pronunciaram, mas o empresário do ator, Gilberto Séves, que representa também os Trapalhões Dedé Santana e Mussum, afastou veementemente a hipótese de que o comediante houvesse contraído AIDS, como foi especulado.

Mauro Gonçalves, de 56 anos completados no último dia 18 de janeiro, foi casado com a atriz Selma Lopes, com quem teve a filha Laurinha, mãe de seus três netos. “Quem conheceu e conviveu com ele sabe que ele estava longe de qualquer grupo de risco”, afirmou Gilberto Séves. Segundo o empresário, Zacarias fez um tratamento para emagrecer sem supervisão médica e ficou muito abatido: “No Brasil, principalmente no meio artístico, quando alguém emagrece é porque esta com AIDS”, lamentou, dizendo ainda que o ator ficou “muito triste com os boatos porque isto afetava sua imagem junto as crianças”.

O corpo do ator foi levado da clínica para a Santa Casa da Misericórdia, no Centro da cidade, submetido á necropsia e embalsamamento para ser levado num jatinho fretado para Belo Horizonte. Do aeroporto de Confins viajaria para Sete Lagoas, onde Zacarias nasceu, para uma velório previsto para a noite toda na Câmera Municipal. O enterro foi marcado para as 10 horas da manhã de hoje. Estava prevista ainda uma homenagem dos amigos, no aeroporto Santos Drumont, no Rio, antes do embarque do corpo para Minas.

Tipo caipira

Mineiro de Sete Lagoas, o mais velho de 11 filhos de um comerciante, Mauro Gonçalves era tímido e queria ser apenas um arquiteto. Mas interrompeu os estudos a partir de uma oportunidade em um programa de rádio apresentado por Paulo Gracindo e Mario Lago. Fazia um tipo bem caipira no quadro “Tribunal de Calouros” e depois chegou a ser galã de novelas na Rádio Inconfidência. Em Minas, atuou em comédias radiofônicas, imitando vozes de bichos, crianças e fazendo sempre o caipira ingênuo. Em 1963, conseguiu um contrato para trabalhar na extinta TV Excelsior, transferindo-se depois para TV Tupi, onde finalmente tornou-se o Zacarias, um personagem inspirado nos estereótipos brejeiros de Minas Gerais. Foi ai que chamou a atenção de Renato Aragão, que em 78 o convidou para integrar Os Trapalhões e participar do filme Os Trapalhões na guerra dos Planetas. No fim do ano passado, Zacarias fez seu ultimo filme com Os Trapalhões, Na Terra dos Monstros, ao lado de Angélica, Vanessa de Oliveira e o grupo Dominó. ( Jornal da Tarde, 19/03/1990)

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  Zacarias estava internado há nove dias e a família pediu para que sua morte não fosse atribuída a AIDS.

O comediante Mauro Faccio Gonçalves, 56, o Zacarias do grupo humorístico “Os Trapalhões”, morreu ontem ás 11h25, na Clinica São Vicente, n Gávea (zona sul do Rio). De acordo com o boletim médico, as causas da morte foram insuficiência respiratória, síndrome de angustia respiratória em conseqüência de infecção pulmonar. Zacarias estava internado há nove dias e seu estado de saúde piorou na sexta-feira. A família pediu a jornalistas que não fosse atribuída a AIDS.

O corpo será transportado para sua cidade natal, Sete Lagoas, em Minas Gerais, onde deverá ser enterrado. Segundo o empresário dos Trapalhões, Geraldo Seves, o caixão ficará aberto durante o velório, mas não serão permitidas fotografias “para que as crianças não vejam o ídolo morto”.

Segundo sua família, Zacarias foi internado com problemas respiratórios depois de ter iniciado um regime alimentar á base de remédios por conta própria. Ele iniciou o regime em dezembro e chegou a perder 20 quilos. De acordo com seus parentes, ele teria recebido orientação do médico Manoel Nunes de que esse regime poderia ser prejudicial a sua saúde. A infecção pulmonar teria sido causada então pela fraqueza do organismo decorrente do regime.

Em 1971, Mauro Gonçalves foi premiado como ator revelação por sua atuação na peça “A Dama do Camarote”. O apresentador Wilton Franco contou que “Zacarias” começou a trabalhar em televisão na Tv Excelsior, no Rio, e depois foi participar do programa “Praça da Alegria”, na TV Record, e “Café sem Conserto”, da TV Tupi. Renato Aragão o descobriu nesse programa e fez o convite para Zacarias participar de “Os Trapalhões”. Além do sucesso na televisão, Zacarias fez 22 filmes com o grupo. Ele tambem participou da comédia, em 1977, “Deu a louca nas mulheres”, desta vez sem Os Trapalhões.

Zacarias era separado de Selma Lopes, com quem tinha uma filha, Maria Laura, 31, e uma neta, Beatriz, 12.

Zacarias, que era Mauro Gonçalves

Um jeito inocente e doce de conquistar as crianças

Um homem que amou demais

• Nome: Mauro Gonçalves, 56, mineiro de Sete Lagoas
• Ocupação: Ator e humorista
• Estado civil: divorciado
• Religião: Espírita, “mas considero todas religiões iguais, todas visam a um mesmo objetivo: Deus”.
• Trapalhões: “É outro momento na minha vida que me sinto próximo as pessoas, transmitindo uma mensagem alegre, de humor”.
• Sucesso: “A receita de sucesso de os “Trapalhões” é a união e a amizade. Somos amigos”.
• Crianças: “As crianças são o meu grande publico”.
• Signo: “Sou de Capricórnio e curto horóscopo”.
• Família: “Tenho uma neta, Beatriz, 12. Gosto demais dela”.
• Festas: “Não gosto de festas. Prefiro ficar em casa ouvindo musica, lendo e pintando”.
• Natureza: “Adoro plantar. Sou um defensor da natureza. Ando triste com o que vem acontecendo com ela”.
• Sonho: “Fazer um musical, porque tive uma vida muito boa no teatro, onde fui premiado”.

Créditos: Folha da Tarde, 19/03/1990)

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O comediante Mauro Faccio Gonçalves, 56, o Zacarias do grupo humorístico Os Trapalhões, morreu ontem as 11h25, na Clinica São Vicente, na Gávea (zona sul do Rio). Segundo o boletim médico, as causas da morte foram insuficiência respiratória e síndrome de angustia respiratória em conseqüência de infecção pulmonar. Zacarias estava internado há nove dias e seu estado de saúde piorou na sexta-feira. A família pediu aos jornalistas que a morte do comediante não fosse atribuída AIDS. O corpo será enterrado em sua cidade natal, Sete Lagoas (MG).

Segundo a família, Zacarias foi internado com problemas respiratórios depois de ter iniciado por conta própria um regime alimentar a base de remédios. Ele começou o regime em dezembro e chegou a perder 20 quilos. A infecção pulmonar teria sido causada pela fraqueza do organismo decorrente do regime.

O comediante estava afastado das gravações do programa “Os Trapalhões”, que deverá voltar ao ar no próximo dia 25, ás 19h. Este ano, ele deveria participar como o maitre do Trapa-Hotel. A previsão da emissora era de que o comediante não participaria dos dois primeiros programas. O motivo alegado para sua licença médica era o tratamento de uma anemia. Em entrevistas á imprensa, Zacarias disse que sofria as conseqüências desse regime e negou que estivesse com AIDS.

Os humoristas Renato Aragão e Manfried Sant’Ana (Dedé) chegaram a clinica as 13h. Antonio Carlos Gomes, o Mussum, estava passeando de lancha em Angra dos Reis (a 151 Km do Rio) e até as 14 não havia sido localizado.

Ator iniciou carreira no rádio

(Da Reportagem Local)

Mauro Faccio Gonçalves, mais conhecido como Zacarias, nasceu em Sete Lagoas (MG) em 1934. Neto de imigrantes italianos, foi bancário e estudou arquitetura na Escola de Belas Artes de Belo Horizonte. Começou a carreira artística como humorista de rádio.

Zacarias foi ator de comédias teatrais e comerciais. Foi o homem do guarda-chuva em campanha do Banco Nacional. Em 1970 ganhou o prêmio de ator revelação com a peça “A Dama do Camarote”. Foi casado com Selma Lopes, com quem teve uma filha.

Em 1974 entrou para “Os Trapalhões”, grupo humorístico formado por Renato Aragão (Didi), Manfried Sant’Ana (Dedé) e Antonio Carlos Bernardes (Mussum). Foi o ultimo a ingressar no grupo, que surgia com o nome Os Insociáveis em 1964. O humor do grupo se caracterizou pelas misturas de situações de simplicidade quase infantil com o “nonsense”.

Depois de 15 anos de trabalho, Os Trapalhões se separaram em outubro de 1983, por divergência de ordem econômica – 80% dos lucros ficavam com Renato Aragão e só os 20% restantes eram divididos entre os outros. O grupo se reconciliou em fevereiro do ano seguinte. (FOLHA DE S. PAULO - segunda-feira, 19 de março de 1990 – ILUSTRADA E)